quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dezembros


Nunca mais a natureza da manhã     
E a beleza no artifício da cidade 
Num edifício sem janela   
Desenhei os olhos dela     
Entre vestígios de bala  
E a luz da televisão 
  
Os meus olhos têm a fome Do horizonte   
Sua face é um espelho Sem promessa  
Por dezembros atravesso  
Oceanos e desertos    
Vendo a morte assim tão perto  
Minha vida em suas mãos 
  
O trem se vai 
Na noite sem estrelas  
E o dia vem 
Nem eu nem trem nem ela 

                                          ( Zeca Baleiro )

Merecida homenagem a uma das mais belas poesias 
que já vi nos últimos tempos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Folha Corrida

Não se conhece um homem pela impressão digital
Nem uma mulher pelo olhar.
Não se conhece um pássaro pelas penas
Nem uma cobra pelo rastejar.
Não se conhece um analfabeto pela leitura
E nem um doutor pelo falar.
Não se conhece um amigo pelos elogios
E nem um inimigo por te ameaçar.
Mas, conhecemos o homem pelo caráter.
A mulher pela alma
O pássaro pelo cantar
A cobra pelo veneno
O analfabeto pela humildade
O doutor pelas atitudes
O amigo pelo coração
O inimigo: esse nós não conhecemos, não!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Com doçura e mel

Da canção que ouço
A nota mais bela é longa como os teus cabelos...
É doce como a tua voz
É leve como o pensamento
Distante como o sentimento
Presente como o momento.
É grave como o teu alento
Que entoas por meu peito adentro
Tentando ser tão eu, quanto eu sou eu.
Entrando eu meus ouvidos
Com doçura e mel
E escorrendo em meu leito
Feito o cristal das águas frias
Das nascentes quentes, discordantes...
Dessas frias águas amantes
Que nascem em meu ser ardente
E deixa-me tão louco e errante
Que com meu coração latente
Dançarei feliz e satisfeito
Como o mais perfeito orgasmo
Tirado do teu peito
E adormecido no teu ventre. 

sábado, 8 de maio de 2010

A borboleta e a Cigarra

Delicadamente abres tuas asas sobre o verde dos campos
E da cigarra escuto o cantar estridente
Enquanto voas linda, bailando nos céus,
Meus olhos te acompanham nessa dança mágica.
Leves movimentos, que até em pensamentos
Suavizam o toque dos meus dedos
Enquanto descrevo a sublime maestria
Deste vôo, livre e teu.
Misturando tua cor à natureza
Confundes mais meus olhos que minha cabeça
Exibindo teus tons no espaço
Entre as folhas molhadas da manhã
Esquivando-se dos galhos marrons
Das árvores que te esconde
E abriga quem canta tão avidamente; A cigarra: que de ti, é tão parente
Quanto a larva, que um dia, já foram as duas
E agora, uma canta e a outra voa livremente.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um dia... amei.


Um dia, eu pensei que poderia amar... amei.
E que o amor era eterno... e é, eu sei.
Porém, meu coração bateu descompassadamente, muitas vezes
E muitas vezes eu chorei...
um choro amargo e quente, que coroe as entranhas,
Fere a alma e derrete o sentimento.
Um dia, eu até pensei que poderia te amar...
Um amor assim... sem pretensão, sem juízo.
E amei.
Mas um dia eu pensei que poderia ter você... errei!
É que doeu... uma dor diferente, mórbida e fria.
Uma dor que jamais sentira e que agora, muitas vezes sinto.
E uma chama queimou por dentro como um vulcão ardendo
Como uma voz dizendo: Não!
Quando o que eu mais queria, era tua boca dizendo: Sim!
E nossos corpos se envolvendo como águas
quente e fria que se misturam
E de repente, as duas são uma só
Morna, na metade do amor, que atrai os dois...
E vão ficar assim até esfriarem juntas ou ferverem juntas
num amor eterno... fatal...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Madrugada

Na madrugada, ouço os sons da noite...
Neles escuto frases doces, amargas,
ásperas e delicadas.
Nas cores da madrugada
eu vejo silhuetas que parecem com as suas,
vejo olhos tristes nas ruas;
bocas frenéticas se beijando
ouço corações batendo forte,
quase explodindo.
Vejo roupas suadas e às vezes,
corpos frios...
vejo o pulsar do sexo
por debaixo da roupa.
Vejo seios empinados
blusas abertas...
vejo mãos buliçosas e carinhosas.
Vejo sorrisos e choros...
vejo pessoas que saem
e pessoas que chegam...
Na madrugada, penso em você,
em mim, em toda humanidade...
penso em você... em mim... na madrugada.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Tirar da flor o mel
é como a abelha faz...
é assim, meu amor por ti
num vôo suave e preciso
acerto teu coração e te beijo
buscando o cheiro da tua alma...
refinada, desdobrada no vento melodioso
da minha imaginação.
Suave lembrança, cantiga
mágica eufórica de segredos doces...
viagem na liberdade do abraço
do amasso, do corpo, do braço...
do coração.
Tempo de flor e de mel
colheita prematura dos encantos
busca da vida, do amor, do querer... busca de você.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

MENTE PERIGOSA

Não vem do pensamento, nem da alma.
Vem do nada.

Do nada que somos, do mundo em que vivemos,
As loucuras que fazemos,
as besteiras que pensamos.

Não vem de lugar nenhum, esse nosso desejo,
de sermos mais

ou nos acharmos menos,
do que quem é menos que nós.


Não vem de lugar nenhum, esse nosso desejo de pensarmos que
não somos o que queremos...

Vem de dentro do estômago, azedo e fedorento,
esse desejo torpe
de querer o que não nos pertence;

De achar que o amor é o razão do tesão
e da loucura de possuir alguém numa cama fria de um motel nojento.

É de nós, do ser humano,
do ser insano e profano,

a desculpa pudica de não te desejar porque á pecado...

quem diria que a religião pra isso serviria?

Ah! nem pense nisso, esbelta menina,

se é de perigo que alimentas tua mente,
Vem correr perigo comigo,
e se uma vez só não bastar,
vem novamente.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Açúcar e poesia

Minha doce poesia, vim te encontrar agora,
pois, a distância dos corpos e o silêncio dos dias,
deixam em mim um imenso vazio.

Tuas palavras doces refletem um encanto
tamanho, que a abelha mais pura
dessa doçura desejaria.
Provar desse mel.

que ora da tua boca derramas em doces
frases que confundem plebeus e  monarquia.

És santa, és pura, és magia... és a razão, até,
da sabedoria

dos poetas que se embriagam
em teus versos e morrem
na doce ilusão de ter-te um dia.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

In sanidade...

Sai daqui, da minha alma
Arrancando junto com sentimentos
Rasgando meu peito e chorando
Lágrimas, ácidas e febris,
Indolores do passado meu.
Derramando em meu rosto
A derradeira gota, lambida belo vento
Ateu e insano...
Elo democrático entre você e mim
Rebuscando as convicções de Deus
Em nossos corações.
Amargos pensamentos me sufocam
e eu,
O poeta rebelde, de soluções lógicas,
Te convido a dançar na noite
Enquanto baila pra nós, o lobisomem,
Bestial e insensato, gritando seus temores e
Bebendo na taça da amargura, eclética e meio
Torta, sem razão...
Troca de caráter, carinho, caricatura nossa de cada dia
É daqui que sai essa míope revelação infértil.
Tortuosa e primária paixão...
É daqui que sai o nosso amor.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Que dor é essa?


Ai, que dor é essa?
Essa dor que me arrebata da razão e me impede de ser feliz.
Essa dor tão doída que me tira a consciência, a sensatez...
Ai, que dor é essa?
Essa dor que ninguém pode sentir por mim
que dor é  essa, que destrói o roseiral de minha alma, do meu coração.
Ai, que dor é essa; tão grande, que me arremete de volta ao ponto de partida,
Que queima e machuca o local da ferida.
Ai que dor tão distante, que não posso alcançá-la, nem curá-la.
Essa dor, sem sentido, que sinto todas as noites antes de dormir
E ao acordar pela manhã, volto a sentir.
que dor essa, que não posso dividir,
Ai, que dor é essa?
Que me tira o gosto do café matinal, que amarga meu doce
Que grita em mim mais forte que eu.
Que abafa minha voz, que não me acalanta, só dói.
Ai, que dor é essa? Que dor é essa?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Doi...




Dói quando se junta o amor e a paixão;
Dói quando se junta o desejo e a razão;
Dói quando se diz sim;
Dói quando se diz não;
Dói quando o vaso quebra;
Dói para consertar.
Dói quando se vai embora;
Dói muito mais pra voltar.
Dói quando o amor demora;
Dói quando vai chegar.
Dói tudo dentro da gente
Tudo que é diferente
Mesmo que o que se sente
seja o melhor pra nós.
Mas o que mais dói na vida
é saber que o “que” pára o sofrimento
é o AMOR, o que mais dói.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

DESERTO...




é um vazio que queima nossa alma;
é uma areia que cega nossos olhos;
é um vendaval que nos arrebata.
Deserto, é um nada que vemos;
é uma extensão de milhares de milhas
sem nada, sem nada...
Deserto, é o que tentamos tocar, e nossas
mãos não conseguem;
é o perfume que sentimos e não vemos.
Deserto, é a cama em que dormimos;
é o espaço entre ela e eu.
Deserto, é o beijo que trocamos;
sem sabor, sem sabor...
Deserto, é o café da manhã;
é a distância na mesa.
Deserto, é o sentimento, é o sentimento.